Afogados em dados: a ilusão do conhecimento na era da inteligência artificial e a prospecção tecnológica
- Ricardo Carvalho Rodrigues

- 29 de jan.
- 5 min de leitura

Afinal, de que adianta ter acesso a ferramentas avançadas de IA sem saber como aproveitá-las corretamente?
Afinal, de que adianta ter acesso a ferramentas avançadas de IA sem saber como aproveitá-las corretamente?
Empresas que adotam IA sem um conhecimento sólido em Propriedade Industrial e Gestão da Inovação correm o risco de desperdiçar investimentos e perder oportunidades estratégicas. A ilusão de que basta implementar tecnologia para obter vantagem competitiva pode ser fatal para a inovação.
Inteligência Artificial e Prospecção Tecnológica: O Diferencial Estratégico que Poucas Empresas Dominam
A aplicação dos conceitos de prospecção tecnológica suportada pela Inteligência Artificial tem revolucionado a forma como organizações identificam oportunidades e tomam decisões estratégicas em inovação. No setor farmacêutico, por exemplo, a IA é amplamente utilizada na descoberta de novos fármacos, mas seu sucesso depende da integração com bancos de patentes e estratégias de proteção da propriedade industrial, garantindo a viabilidade comercial e a segurança jurídica das inovações [1].
Da mesma forma, China e União Europeia adotam IA para análise de patentes, mas a diferença crucial está na capacidade de transformar grandes volumes de dados brutos em insights estratégicos e acionáveis, permitindo uma visão mais precisa sobre tendências tecnológicas e oportunidades de mercado [2].
No Brasil, esse movimento também se evidencia. Por exemplo, a Embrapa tem explorado a integração de processos de inteligência estratégica e prospecção tecnológica em bioinsumos, considerando possibilidades de uso de IA nesses subprocessos [3]. Além disso, empresas brasileiras estão adotando IA para automatizar processos e fluxos de trabalho, visando aumentar a eficiência operacional [4]. Assim, a prospecção tecnológica baseada em IA não apenas acelera a identificação de invenções promissoras, mas também fortalece a inteligência competitiva e a gestão do conhecimento, tornando-se um elemento essencial para a tomada de decisão em ambientes dinâmicos e de alta complexidade.
Apesar do avanço proporcionado pela Inteligência Artificial, apenas ter acesso a ferramentas sofisticadas não garante uma prospecção tecnológica eficaz. Para que a IA agregue valor real, é essencial compreender seus objetivos e sua interação com a Gestão da Propriedade Industrial.
A IA pode processar grandes volumes de dados, identificar tendências e até sugerir novas rotas tecnológicas, mas cabe ao especialista definir as perguntas certas, interpretar os resultados e integrá-los às estratégias de inovação. Sem esse conhecimento estratégico, o uso de IA pode levar a análises superficiais ou desalinhadas com os interesses do negócio, desperdiçando tempo e recursos.
Portanto, a adoção de IA na prospecção tecnológica deve vir acompanhada de um investimento contínuo na capacitação de profissionais que compreendam os fundamentos da propriedade industrial, os objetivos da prospecção e a melhor forma de interpretar os insights gerados. A combinação entre tecnologia avançada e conhecimento especializado será o verdadeiro diferencial competitivo para empresas que desejam inovar de forma inteligente e estratégica.
Se IA sozinha fosse suficiente, todas as empresas que a utilizam estariam liderando seus setores. O verdadeiro diferencial está no conhecimento estratégico: saber o que buscar, como interpretar e como transformar insights em inovação protegida e lucrativa.
A Importância da Base Conceitual: Integração entre IA e Gestão da PI
Apenas implementar IA não garante inovação ou sucesso comercial. A Gestão da Propriedade Industrial é um fator crítico para transformar dados em ativos competitivos. Estudo da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) revela que mais de 80% das empresas inovadoras bem-sucedidas têm estratégias de Propriedade Industrial integradas ao seu modelo de negócios [5] . A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) destaca que startups que utilizam dados de patentes corretamente aumentam em até 30% suas chances de sucesso no mercado [6].
Empresas que investem na integração entre IA e Gestão da Propriedade Industrial estão um passo à frente em termos de competitividade. No entanto, sua implementação ainda enfrenta desafios significativos. Muitas organizações adotam a IA sem uma estratégia bem definida, sem considerar a integração com suas operações e sem contar com profissionais qualificados para interpretar e aplicar seus insights. Como resultado, grande parte dos investimentos nessa tecnologia não gera os retornos esperados, levando a desperdício de recursos e decisões equivocadas.
Estudo publicado pelo MIT Technology Review revela que 85% dos projetos de IA não atingem seus objetivos devido à falta de alinhamento estratégico com o negócio [7]. Além disso, a McKinsey aponta que apenas 20% das empresas conseguem extrair insights valiosos de dados tecnológicos, pois não contam com especialistas em Propriedade Intelectual e inovação em suas equipes [2].Esses dados evidenciam que a grande maioria das organizações ainda não sabe aproveitar o verdadeiro potencial da IA para a inovação, limitando sua aplicação a soluções superficiais ou isoladas. Para que a IA cumpra seu papel estratégico, é fundamental que as empresas invistam não apenas em tecnologia, mas também no conhecimento necessário para transformar dados brutos em vantagem competitiva.
O Verdadeiro Diferencial: A Inteligência humana
Se IA sozinha fosse suficiente, todas as empresas que a utilizam estariam liderando seus setores. A realidade, porém, é diferente: a vantagem competitiva não reside somente na ferramenta, mas na capacidade humana de interpretar, contextualizar e transformar dados em estratégias eficazes. Empresas que entendem isso saem na frente e consolidam sua presença no mercado.
Pesquisas na área de gestão da inovação e inteligência competitiva destacam a importância da inteligência humana na tomada de decisões estratégicas. Nonaka e Takeuchi (1995), em sua teoria sobre a criação do conhecimento organizacional, enfatizam que a verdadeira inovação surge da interação entre conhecimento tácito (baseado na experiência e intuição humana) e conhecimento explícito (dados estruturados e formalizados) [8]. Dessa forma, a tecnologia pode fornecer insights, mas é a inteligência humana que os traduz em ações estratégicas, tornando-os relevantes para cada contexto de negócio.
No campo da Propriedade Industrial, essa questão é ainda mais evidente. A identificação de oportunidades tecnológicas, a análise de patentes e a avaliação da viabilidade de novos produtos exigem uma compreensão profunda do mercado, das regulamentações e das interações entre diferentes tecnologias. Como apontam Chesbrough (2003) e sua teoria da inovação aberta, a capacidade de conectar diferentes fontes de conhecimento – internas e externas – é essencial para transformar ideias em ativos protegidos e rentáveis [9].
Portanto, o verdadeiro diferencial competitivo não está apenas no acesso a ferramentas avançadas de IA, mas na presença de profissionais qualificados que saibam interpretar tendências, combinar informações estratégicas e tomar decisões assertivas. Empresas que investem na capacitação de suas equipes, integrando tecnologia e inteligência humana, não apenas inovam de forma mais eficiente, mas também consolidam sua posição de liderança no mercado.
E você? Sua empresa está apenas utilizando IA ou realmente sabe como extrair valor dela? Quer entender como a IA pode transformar sua estratégia de inovação e Propriedade Industrial? Vamos conversar!
Oportunidade para Pesquisa
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📩Contato:ricardo.rodrigues@inpi.gov.br 🌐 Mais informações: www.gestaodapi.com
Referências
[1] OECD. Organisation for Economic Co-operation and Development. OECD Innovation Indicators Report, 2022.
[2] MCKINSEY & COMPANY. The state of AI in 2023: Generative AI's breakout year. 2023.
[3] SILVA, A. C. et al. Modelo de integração do processo de inteligência estratégica e prospecção tecnológica em bioinsumos. Embrapa, 2023.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE SOFTWARE (ABES). A presença da inteligência artificial entre as empresas brasileiras. 2023.
[5] WIPO. World Intellectual Property Organization. World Intellectual Property Report, 2023.
[6] OECD. Organisation for Economic Co-operation and Development. OECD SME and Entrepreneurship Outlook 2023. Paris: OECD Publishing, 2023.
[7] MIT TECHNOLOGY REVIEW. Relatório sobre Impacto da Inteligência Artificial na Inovação, 2023.
[8] NONAKA, Ikujiro; TAKEUCHI, Hirotaka. Criação de conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
[9] CHESBROUGH, Henry W. The era of open innovation. MIT Sloan Management Review, v. 44, n. 3, p. 35-41, 2003.
Importante: O presente texto apresenta as opiniões pessoais do autor, as quais não devem ser interpretadas como o posicionamento oficial de qualquer instituição à qual ele esteja vinculado.
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