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Propriedade Intelectual: a personagem esquecida nas histórias de sucesso em gestão empresarial


Imagem gerada por IA - DALL-E
Imagem gerada por IA - DALL-E

Nos casos de sucesso empresarial que costumamos ouvir, sempre há heróis carismáticos, ideias geniais e viradas espetaculares dignas de roteiros inspiradores. Mas quase nunca ouvimos falar de um personagem silencioso, porém decisivo: a Propriedade Intelectual (PI). Sem ela, muitas dessas histórias teriam um final bem diferente.


As narrativas mais comuns são limpas e lineares: vão do desafio inicial à consagração final. Quase sempre mostram uma trajetória épica de superação, onde uma ideia mal compreendida vira um negócio brilhante graças ao talento de um líder visionário. Histórias assim animam palestras e inspiram aulas, mas raramente refletem a complexidade da realidade empresarial, especialmente no Brasil.


Na prática, planos fracassam, erros acontecem, e o crescimento, quando vem, exige mais do que força de vontade e boas ideias. É preciso estratégia, proteção e controle. E é justamente aí que a Propriedade Industrial entra em cena, embora quase nunca receba o devido destaque.

Quando aparece, a PI costuma ser tratada como coadjuvante, limitada a dados soltos: número de patentes, marcas registradas, ou, no máximo, referências genéricas a casos famosos como a fórmula da Coca-Cola.

Outros ativos igualmente importantes, como registros de software, proteção de cultivares, topografias de circuitos integrados, conhecimentos tradicionais e segredos industriais, são ainda mais negligenciados. São como parentes distantes, lembrados apenas em congressos acadêmicos ou eventos jurídicos especializados.


Mas essa é apenas a superfície da história.


As histórias em que a PI assume papel protagonista revelam dinâmicas muito mais ricas e decisivas para a competitividade das organizações. No entanto, a baixa cultura de valorização dos ativos intangíveis no Brasil faz com que esses casos sejam pouco conhecidos ou compreendidos fora de círculos especializados. Toda boa história de PI começa com uma empresa que possui um diferencial competitivo baseado em ativos intangíveis relevantes. Pode ser um robusto portfólio de patentes, como o da Petrobras, que vem quebrando recordes de depósitos de patentes, o design exclusivo de um produto, como as sandálias Havaianas da Alpargatas, que combinam estilo, conforto e inovação e são protegidas por registros de desenho industrial ou mesmo um segredo industrial bem guardado, como a tecnologia pioneira de sexagem molecular de mudas de mamão da mfPapaya, mantida sob segredo industrial [1].


O ponto central é que, para competir de forma sustentável e inovadora, cada vez mais empresas brasileiras precisam dominar o jogo do controle estratégico de seus ativos intangíveis. A gestão da PI não é apenas um processo jurídico ou burocrático, ela é parte essencial da estratégia de negócios, inovação e posicionamento no mercado.

Alguns exemplos para ilustrar o poder da PI


A Natura construiu uma das marcas mais valiosas do Brasil não apenas por sua proposta de sustentabilidade e inovação em cosméticos, mas também pelo investimento constante em pesquisa e pela proteção estratégica de suas fórmulas, processos e embalagens. Sua atuação forte em patentes é parte de uma visão integrada entre inovação e Propriedade Industrial.


Referência em equipamentos elétricos, a WEG mostra como uma gestão sistemática da PI pode impulsionar o crescimento global. Com forte investimento em P&D e um portfólio robusto de patentes e marcas, a empresa reforça sua posição em mercados de alto custo com ativos intangíveis bem protegidos.


A Embrapa tornou-se referência mundial em inovação agropecuária ao estruturar uma política sólida de gestão da PI e de transferência de tecnologia. Esse posicionamento estratégico permitiu à empresa liderar transformações fundamentais no agronegócio brasileiro.


O Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein foi reconhecido como uma das organizações mais inovadoras do país, segundo o ranking do Valor Inovação Brasil 2023, publicado pelo jornal Valor Econômico em parceria com a consultoria Strategy& da PwC [2]. Essa distinção reflete o compromisso da instituição com a ciência, a tecnologia e a inovação em saúde. Em seu portal institucional, o Instituto evidencia como utiliza de forma estratégica seus ativos de propriedade intelectual para fomentar a inovação e ampliar seu impacto social. Com pedidos de patente, softwares e know-how, mostra como a PI pode viabilizar parcerias e inovação aberta em saúde.


A MFPapaya, fundada pela Dra. Fernanda Arêdes, desenvolveu uma tecnologia pioneira de sexagem molecular de mudas de mamão, oferecendo ao agronegócio uma solução mais precisa, eficiente e sustentável. Com apoio da FAPERJ, a empresa apresentou um crescimento acelerado, expandindo sua atuação de apenas 1 hectare em 2021 para 600 hectares projetados até 2025, com um faturamento estimado em R$ 8,4 milhões. Seu modelo de negócio combina prestação de serviços técnicos especializados com o recebimento de royalties sobre a tecnologia aplicada.


Entre os diferenciais que contribuíram para o sucesso da MFPapaya está a gestão estratégica da Propriedade Intelectual, especialmente a escolha pelo segredo industrial como forma de proteção. Ao manter o know-how sob confidencialidade, a empresa conseguiu preservar sua vantagem competitiva sem expor sua metodologia no mercado. Um exemplo claro de como a combinação entre inovação tecnológica e proteção adequada da PI pode impulsionar o crescimento sustentável de empresas brasileiras.


Dica: Para quem deseja se aprofundar na aplicação prática da gestão da PI em empresas brasileiras, vale a leitura do estudo de Elisabeth Loiola e Tatiane Mascarenhas (2013), que analisou o caso da Braskem sob a perspectiva do alinhamento estratégico entre ativos intangíveis e inovação empresarial. [3]

O que não entra na história, fica fora da estratégia!


Se quisermos contar histórias empresariais mais reais e úteis, precisamos colocar a Propriedade Industrial no centro da narrativa. Não como coadjuvante, mas como motor estratégico da inovação, da proteção e da geração de valor. Gerir a PI de forma estratégica é mais do que apenas proteger inovações é garantir que elas gerem valor real para o negócio. Sem isso, toda grande ideia corre o risco de ser apropriada por outros.


Como bem definiram Blaxill e Eckardt: “Inovação sem proteção é filantropia.”[4]

Proteger, explorar e valorizar os ativos intangíveis é o que permite transformar boas ideias em vantagens sustentáveis. Sem essa visão, mesmo as empresas mais inovadoras podem ficar pelo caminho.



Quer aprender como transformar a Propriedade Industrial em um diferencial estratégico para sua organização? Então, siga com a gente. Essa história está só começando.


Oportunidade para Pesquisa: nosso Grupo de Pesquisa em Gestão da Propriedade Industrial e Inovação tem disponibilidade para orientações de Estágio Pós-Doutoral (processo contínuo), Mestrado e Doutorado, com vagas previstas no Edital 2025 para ingresso em 2026.


Referências:


[1] ARÊDES, Fernanda. Revolucionando o plantio de mamão no Brasil. In: LANÇAMENTO DO STARTUP RIO 2025, 2025, Rio de Janeiro. Apresentação em evento — FIRJAN, 26 mar. 2025.


[2] VALOR ECONÔMICO. Valor Inovação: Albert Einstein é a instituição mais inovadora do país. Valor Econômico, 5 ago. 2024.


[3] LOIOLA, Elisabeth; MASCARENHAS, Tatiane. Gestão de ativos de propriedade intelectual: um estudo sobre as práticas da Braskem S.A. Revista de Administração Contemporânea – RAC, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 42–63, jan./fev. 2013.


[4] BLAXILL, Mark; ECKARDT, Ralph. A vantagem invisível: como vencer a concorrência usando a propriedade intelectual. Tradução de Carlos Cordeiro de Mello. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.​


Importante: O presente texto apresenta as opiniões pessoais do autor, as quais não devem ser interpretadas como o posicionamento oficial de qualquer instituição à qual ele esteja vinculado.

 
 
 

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