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Da Gestão de Projetos à Gestão da Propriedade Industrial: A ISO 56000 é a Nova Fronteira da Profissionalização?



Fonte: Adaptado de Innovationsledarna [1]
Fonte: Adaptado de Innovationsledarna [1]

Com o passar dos anos a inovação tornou-se mais complexa, exigindo a análise e compartilhamento de grandes volumes de informações para identificar oportunidades. As organizações precisam de sistemas estruturados de monitoramento para acompanhar o ritmo das mudanças tecnológicas e lidar com a entrada constante de novos concorrentes. Mesmo empresas bem-sucedidas podem ser desafiadas por players inovadores caso não se adaptem rapidamente.


Além disso, a inovação não se limita a produtos ou processos e não é mais responsabilidade exclusiva dos departamentos de P&D. Ela permeia todas as áreas da organização, incluindo aquelas não diretamente ligadas ao core business, pois todas precisam desenvolver soluções inovadoras para desafios diversos, como restrições ambientais ou mudanças impostas por crises globais, como a pandemia recente.


A inovação vai além do domínio técnico: envolve novos modelos de negócios, aprimoramento de conhecimentos jurídicos e comerciais, e, cada vez mais, colaboração. Já não é viável inovar de forma isolada; países e regiões precisam estabelecer ecossistemas de inovação colaborativa. A padronização desses ecossistemas é uma maneira eficaz de criar uma estrutura comum para o reconhecimento e a disseminação das melhores práticas. Essa necessidade de estrutura levou ao desenvolvimento de normas, como as da Organização Internacional para Padronização (ISO, na sigla em inglês) que estabelecem diretrizes para a inovação organizacional.


Por que criar uma norma ISO para gestão da inovação?


Antes de falarmos sobre a norma, é importante entender o contexto e os motivos pelos quais os membros da ISO decidiram que seria importante criar essa norma. O primeiro motivo é o reconhecimento de que uma nova profissão estava emergindo e se tornando cada vez mais importante: a profissão de gestor da inovação dentro das organizações. Esse profissional não substitui outras funções, como gestão de projetos ou gestão da qualidade, mas coexiste com elas e possui suas próprias necessidades.


Os sistemas de gestão têm se mostrado ferramentas bem-sucedidas para melhorar a eficiência e a qualidade das organizações. Desde a introdução da ISO 9000, há mais de 30 anos, esses sistemas vêm ganhando popularidade, pois oferecem especificações de classe mundial e permitem que organizações adotem uma linguagem comum para atingir seus objetivos estratégicos.  Além disso, um sistema de gestão da inovação pode se integrar a outros padrões já utilizados pela organização, facilitando o alinhamento dos objetivos de inovação com os demais objetivos estratégicos.


Entretanto, ainda há muita confusão sobre o que é inovação, como ela deve ser gerenciada e que a inovação e padronização não combinam, pois a inovação seria algo espontâneo e imprevisível que acontece por acaso e que não pode ser forçada. Claro, não podemos obrigar alguém a inovar, mas podemos criar condições para que a inovação aconteça e desenvolver uma organização mais inovadora. Empresas inovadoras seguem sistemas e processos estruturados que maximizam suas chances de sucesso.


Para inovar de forma eficiente e contínua, é essencial estabelecer processos sistemáticos de monitoramento, experimentação e aprendizado. A padronização da gestão da inovação oferece benefícios tanto para organizações quanto para ecossistemas regionais e nacionais.


O desenvolvimento de esquemas de certificação para gerentes de inovação e normas bem estruturadas poderão impulsionar a competitividade, fomentar a colaboração e atrair investimentos.

Afinal, o que é a ISO 56000?


A ISO 56000 é uma norma internacional que estabelece os fundamentos e a terminologia da gestão da inovação. Criada pela International Organization for Standardization (ISO), ela faz parte de uma família de normas que orientam organizações na estruturação e aprimoramento de sistemas de gestão da inovação. A família ISO 56000 inclui diversas normas que abordam diferentes aspectos da inovação, conforme apresentado na Tabela 1.

 

Tabela 1 - Normas da família ISO 56000 publicadas pela ISO [1]


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Diferente da maioria dessas normas, que fornecem apenas diretrizes e boas práticas, a ISO 56001 é a norma certificável da família. Ela permite que organizações obtenham certificação para comprovar sua conformidade com padrões internacionais de inovação, assim como ocorre com a ISO 9001 (qualidade) e a ISO 14001 (meio ambiente).

 

E no Brasil?


A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) já publicou algumas normas da família ISO 56000, tornando-as referências nacionais para a gestão da inovação. Atualmente, temos disponíveis no Brasil:

 

Tabela 2 – Normas da família ABNT NBR ISO 56000 atualmente em vigor no Brasil [2]


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Essas normas representam um importante referencial para empresas que buscam estruturar suas práticas de inovação de maneira alinhada aos padrões globais. Mesmo que a ISO 56001 ainda não tenha sido publicada pela ABNT, isso não impede que organizações brasileiras obtenham certificação internacional. Um exemplo disso é a consultoria PALAS, que foi a primeira empresa brasileira a conquistar a certificação ISO 56001, concedida pela certificadora global DNV. [3]


Com a implementação gradual da ISO 56001 no cenário internacional e sua possível adoção no Brasil, essa certificação tende a se tornar um diferencial estratégico para empresas inovadoras, fortalecendo sua credibilidade e demonstrando sua capacidade de gerenciar a inovação de forma estruturada e eficaz.


O Papel da ISO 56005 na Profissionalização da Gestão de Propriedade Industrial no Brasil


A inovação no Brasil vem ganhando espaço, mas a gestão da Propriedade Industrial (PI) ainda precisa de mais estrutura para se consolidar como uma disciplina profissional. A ISO 56005 surge justamente para suprir essa lacuna, trazendo diretrizes claras para que empresas e instituições aproveitem melhor seus ativos intangíveis.


Por muito tempo, a PI foi vista apenas como um assunto jurídico, quando, na verdade, ela é um dos pilares estratégicos da inovação. Empresas que sabem identificar, proteger e explorar seus ativos de PI criam vantagens competitivas e novas oportunidades de mercado. No Brasil, a adoção da ISO 56005 pode ser um diferencial para que organizações passem a tratar a PI de forma estruturada, indo além do registro de patentes e alcançando uma gestão integrada.


A norma propõe três eixos principais para profissionalizar a gestão da PI:


1. Identificação e Proteção – Criar processos claros para mapear e proteger invenções, marcas e outros ativos, evitando perdas de oportunidades.
2. Monitoramento e Gerenciamento – Acompanhar tendências tecnológicas e movimentos do mercado para evitar riscos e maximizar oportunidades.
3. Exploração Comercial – Transformar a PI em valor econômico por meio de licenciamento, parcerias e expansão para mercados internacionais.

Empresas brasileiras que adotarem essas diretrizes tendem a fortalecer sua posição no mercado global, aumentando sua capacidade de competir por investimentos e colaborações estratégicas. Assim como gestão de projetos e qualidade se tornaram essenciais, a gestão da PI também precisa ser profissionalizada.


Sua empresa está preparada para transformar a Propriedade Industrial em um motor real de inovação?

 

O futuro da competitividade passa pela profissionalização da inovação e da propriedade industrial. Sua empresa está preparada para essa nova fronteira? A ISO 56000 é a Nova Fronteira da Profissionalização?


Segundo Magnus Karlsson, na Europa, a gestão da inovação já se consolida como uma profissão emergente, com a criação de um corpo de conhecimento estruturado, certificação profissional e padrões internacionais, como as normas ISO 56000 e ISO 56002, que orientam sua prática. Os profissionais de gestão da inovação desempenham um papel fundamental ao liderar e organizar iniciativas inovadoras dentro das organizações, sendo frequentemente chamados de gerentes de inovação, facilitadores, coaches ou executivos. Esse movimento segue um modelo semelhante ao que ocorreu com áreas já consolidadas, como a gestão de projetos e a gestão da qualidade. [4]


No contexto sueco, a Association for Innovation Management Professionals in Sweden (Innovationsledarna) iniciou, em 2015, um trabalho para estruturar essa nova profissão, definindo uma descrição formal de cargo, que inclui seis principais responsabilidades, desde aspectos estratégicos até atividades mais táticas. Além disso, foi desenvolvido um Corpo de Conhecimento, que estabelece as competências essenciais para os profissionais da área, alinhadas tanto às diretrizes internacionais quanto ao conhecimento acadêmico e às experiências práticas.


A iniciativa sueca também impulsionou o debate sobre a criação de um Corpo de Conhecimento global, com organizações como a ISPIM (International Society for Professional Innovation Management) se envolvendo nessa construção. Outro passo importante foi o desenvolvimento de um programa de certificação profissional, promovido pelo RISE (Research Institutes of Sweden), com o objetivo de consolidar a legitimidade e a empregabilidade dos profissionais de inovação. Esse programa está aberto a candidatos de qualquer país, desde que atendam aos critérios estabelecidos. A formação desses profissionais ocorre por meio de empresas especializadas, como a Amplify , que oferece um treinamento abrangente sobre gestão da inovação.


Mas e no Brasil? Como estamos estruturando essa nova profissão? Temos órgãos e associações trabalhando para definir padrões e certificações para gestores de inovação? Será que as empresas brasileiras já percebem a necessidade de profissionais especializados para estruturar e gerenciar seus processos inovativos de forma estratégica? A profissionalização da gestão da inovação já é uma realidade em países como a Suécia, quando veremos um movimento semelhante em solo brasileiro?

A crescente demanda por inovação no Brasil exige uma resposta estruturada. Embora existam iniciativas voltadas para a capacitação em inovação, ainda há um longo caminho para consolidar um modelo profissional robusto e reconhecido nacionalmente.



E você? Como sua organização está lidando com a gestão da PI e da inovação? Compartilhe sua experiência nos comentários!


Tem interesse em pesquisar sobre esses temas? Vamos conversar!


Oportunidade para Pesquisa:  nosso Grupo de Pesquisa em Gestão da Propriedade Industrial e Inovação tem disponibilidade para orientações de Estágio Pós-Doutoral (processo contínuo), Mestrado e Doutorado, com vagas previstas no Edital 2025 para ingresso em 2026. 


Referências:

 

[1] INNOVATIONSLEDARNA. Disponível em: https://www.innovationsledarna.se/commitment-1.  

[2] INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (ISO). ISO 56000 - Gestão da Inovação. Disponível em: https://www.iso.org/iso-56000-innovation-management.html. Disponível em: https://www.abnt.org.br.   

[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Normas da família ISO 56000.

[4] LINKEDIN. Professionalizing Innovation Management. Disponível em: https://www.linkedin.com/pulse/professionalizing-innovation-management-magnus-karlsson/.


Importante: O presente texto apresenta as opiniões pessoais do autor, as quais não devem ser interpretadas como o posicionamento oficial de qualquer instituição à qual ele esteja vinculado.

 
 
 

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