Nem tudo são flores no mundo da Inovação: A importância de "celebrar" as falhas
- Ricardo Carvalho Rodrigues

- 21 de fev.
- 5 min de leitura

No universo corporativo, é comum exaltarmos histórias de sucesso e conquistas inovadoras. Entretanto, para cada produto revolucionário que alcança o mercado, inúmeros outros enfrentam o fracasso. Essas falhas, muitas vezes ocultas, são fundamentais para o progresso e para a inovação.
O Museum of Failure reune mais de 200 produtos e serviços que não obtiveram êxito comercial. De acordo com o site oficial do museu, a instituição oferece uma visão única sobre os desafios da inovação, destacando que todo progresso é construído a partir do aprendizado com erros e falhas passadas. [1]
Entre os itens expostos, encontram-se desde dispositivos tecnológicos até produtos de consumo que não corresponderam às expectativas. Essas exposições servem como lembretes de que o caminho para o sucesso é pavimentado com tentativas e erros.
Errar faz parte da inovação e não deveria ser tratado apenas como história. Empresas e profissionais podem adotar uma cultura que valorize o aprendizado oriundo dos insucessos. Ao invés de ocultar ou ignorar as falhas, é essencial analisá-las e compreendê-las, transformando-as em oportunidades de crescimento e inovação.
Um exemplo notável é o Google Glass, lançado entre 2013 e 2015. As expectativas eram altíssimas quando o Google apresentou esses óculos inteligentes com câmera embutida, controles de voz e uma tela inovadora. Entusiastas da tecnologia desembolsaram US$ 1.500 por esse dispositivo futurista, promovido como um produto totalmente desenvolvido. No entanto, o aparelho revelou-se um protótipo caro, com tecnologia que não funcionava perfeitamente. A câmera "discreta" levantou preocupações sobre privacidade, levando à proibição do uso do Google Glass em alguns locais. Aqueles que insistiam em usá-los foram pejorativamente apelidados de "Glassholes".
Google Glass

Outro caso interessante de falha é o AI Pin da Humane, um dispositivo vestível projetado para substituir smartphones, enfrentou críticas severas devido a falhas de hardware, software incompleto e problemas de superaquecimento. A cultura corporativa da empresa, que desencorajava feedback negativo, contribuiu para o lançamento prematuro do produto. Apesar de um investimento significativo de US$ 240 milhões, o dispositivo não atendeu às expectativas, levando a empresa a interromper as vendas e desativar os dispositivos existentes em fevereiro de 2025. [2]
Conforme publicado pela Bloomberg, a HP Inc. anunciou a aquisição de ativos da Humane Inc., incluindo sua propriedade intelectual e equipe técnica, por US$ 116 milhões. No entanto, o dispositivo AI Pin não fará parte do acordo e será descontinuado. Os fundadores da Humane, Imran Chaudhri e Bethany Bongiorno, juntamente com a equipe técnica, formarão uma nova divisão na HP chamada HP IQ, focada na integração de inteligência artificial nos produtos da empresa. [3]
AI PIN
![Foto: TECHDT [5]](https://static.wixstatic.com/media/9fef78_8683dc2ff33a49729a11034d7cbb2e28~mv2.png/v1/fill/w_714,h_405,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/9fef78_8683dc2ff33a49729a11034d7cbb2e28~mv2.png)
Como você lida com as falhas: como oportunidades de aprendizado ou como obstáculos ao sucesso?
Reconhecer e valorizar as falhas é essencial para promover a inovação nas organizações. Ao encarar os erros como oportunidades de aprendizado, cria-se um ambiente que incentiva a experimentação e a criatividade, elementos fundamentais para o desenvolvimento de soluções inovadoras. Se errar é inevitável, aprender com os erros deveria ser obrigatório. Essa abordagem permite que os colaboradores se sintam seguros para testar novas ideias sem medo de represálias, fortalecendo a cultura de inovação.
A gestão da propriedade industrial está diretamente ligada a esse contexto. A propriedade industrial abrange a proteção de criações intelectuais, como patentes, marcas e desenhos industriais, garantindo aos inventores direitos exclusivos sobre suas inovações. Toda grande invenção já foi, um dia, apenas um erro bem interpretado (*). Para que tais inovações sejam alcançadas, é necessário um processo contínuo de tentativa e erro. Ao valorizar as falhas, as organizações estimulam a pesquisa e o desenvolvimento, essenciais para gerar produtos e processos passíveis de proteção legal. Além disso, uma gestão eficaz da propriedade industrial requer o compartilhamento do conhecimento adquirido, incluindo os aprendizados oriundos de falhas, para evitar a repetição de erros e acelerar o avanço tecnológico.
Portanto, ao integrar a celebração das falhas na cultura corporativa e alinhá-la a uma gestão estratégica da propriedade industrial, as empresas potencializam sua capacidade inovadora e fortalecem sua posição competitiva no mercado.
Quem não arrisca, não só não petisca - também não inova.
Ao invés de focarmos apenas nos triunfos, devemos reconhecer e valorizar as falhas como parte integrante do processo inovador. Afinal, é por meio delas que adquirimos resiliência e evoluímos em nossas jornadas profissionais.
Como sua organização está lidando com as falhas, gestão da Propriedade Industrial e inovação? Compartilhe sua experiência nos comentários!
Tem interesse em pesquisar sobre esses temas? Vamos conversar!
Oportunidade para Pesquisa: nosso Grupo de Pesquisa em Gestão da Propriedade Industrial e Inovação tem disponibilidade para orientações de Estágio Pós-Doutoral (processo contínuo), Mestrado e Doutorado, com vagas previstas no Edital 2025 para ingresso em 2026.
Nota *
Muitas invenções e inovações surgiram a partir de erros ou acidentes que foram analisados com um olhar curioso e exploratório como, por exemplo:
Penicilina: A descoberta da penicilina por Alexander Fleming em 1928 é amplamente documentada. Fleming observou que culturas de Staphylococcus aureus foram contaminadas por um fungo do gênero Penicillium, e que ao redor desse fungo as bactérias não cresciam, indicando uma substância com propriedades antibacterianas. Essa substância foi posteriormente isolada e desenvolvida como o antibiótico penicilina, revolucionando a medicina ao possibilitar o tratamento eficaz de diversas infecções bacterianas. [5]
Forno Micro-ondas: A invenção do forno de micro-ondas é atribuída a Percy Spencer, um engenheiro que, em 1945, enquanto trabalhava com magnetrons para radares, notou que uma barra de chocolate em seu bolso havia derretido. Intrigado, ele realizou experimentos adicionais e descobriu que as micro-ondas podiam aquecer alimentos rapidamente, levando ao desenvolvimento do forno de micro-ondas. [6]
Supercola (Super Bonder): A supercola foi descoberta acidentalmente pelo químico Harry Coover em 1942, enquanto ele pesquisava materiais para miras de armas durante a Segunda Guerra Mundial. Ele sintetizou o cianoacrilato, um adesivo que se mostrava extremamente pegajoso. Inicialmente, a descoberta foi considerada um fracasso, mas anos depois, Coover percebeu o potencial comercial do material, que foi então desenvolvido e comercializado como supercola. [6]
Post-it: O Post-it foi desenvolvido por Art Fry, um funcionário da 3M, que utilizou um adesivo de baixa aderência criado por seu colega Spencer Silver. Fry percebeu que o adesivo poderia ser aplicado em pequenos pedaços de papel para criar marcadores reposicionáveis, levando ao produto que conhecemos hoje como Post-it. [6]
A chave para a inovação não está apenas em evitar erros, mas em interpretá-los corretamente. Muitas invenções revolucionárias surgiram porque alguém viu potencial no inesperado e explorou novas possibilidades em vez de simplesmente descartar o que parecia um erro.
Referências:
[1] MUSEUM OF FAILURE. Museum of Failure, c2025. Disponível em: https://museumoffailure.com/.
[2] TECH EDT. Humane's AI Pin discontinued as HP acquires startup for US$116M. Tech Edt, 2025. Disponível em: https://www.techedt.com/humanes-ai-pin-discontinued-as-hp-acquires-startup-for-us116m.
[3] MICKLE, Tripp; GRIFFITH, Erin. 'This Is Going to Be Painful': How a Bold A.I. Device Flopped. The New York Times, 6 jun. 2024. Disponível em: https://www.nytimes.com/2024/06/06/technology/humane-ai-pin.html.
[4] BLOOMBERG. HP's $116 million deal for Humane includes IP but no Ai Pin device. Bloomberg, 18 fev. 2025. Disponível em: https://www.bloomberg.com/news/articles/2025-02-18/hp-116-million-deal-for-humane-includes-ip-but-no-ai-pin-device.
[5] FLEMING, Alexander. A descoberta da penicilina. Mundo Educação. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/a-descoberta-penicilina.htm.
[6] GALILEU. 10 importantes descobertas da ciência que foram feitas acidentalmente. Revista Galileu, 2018. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2018/04/10-importantes-descobertas-da-ciencia-que-foram-feitas-acidentalmente.html.
Importante: O presente texto apresenta as opiniões pessoais do autor, as quais não devem ser interpretadas como o posicionamento oficial de qualquer instituição à qual ele esteja vinculado.
Comentários