OZEMPIC e a disputa pelos GENÉRICOS: O papel da Inovação e Gestão da Propriedade Industrial na Indústria Farmacêutica

Ricardo Carvalho Rodrigues
9 de jan.
5 min de leitura

O Ozempic, um medicamento injetável utilizado no tratamento do diabetes tipo 2, ganhou destaque nos últimos anos por seus efeitos colaterais de perda de peso. Sua eficácia em controlar os níveis de glicose no sangue e promover a saciedade o tornou um dos medicamentos mais procurados no mercado. No entanto, com o sucesso, surge uma nova questão: o que acontecerá quando a patente expirar?

Com a aproximação da expiração da patente, o medicamento para diabetes abre caminho para a concorrência e novas oportunidades. Prevista para 2026, a expiração das patentes PI 0607762-5[1], PI 0613926-4[2] e PI 0606607-0[3], pertencentes à empresa dinamarquesa Novo Nordisk poderá permitir que outras empresas produzam versões genéricas do medicamento e de seus dispositivos. Isso porque, ao evitarem os elevados custos associados à pesquisa e desenvolvimento, as empresas concorrentes reduzem significativamente suas despesas de produção, criando um cenário competitivo desafiador para as grandes farmacêuticas.

A chegada em breve dos genéricos do Ozempic não será apenas um marco comercial, mas também um catalisador para a inovação contínua. Para manterem sua posição de liderança, as empresas precisam investir em novas tecnologias e formulações destacando-se em um mercado em constante evolução. Com a perspectiva de um mercado bilionário, diversas empresas farmacêuticas já se preparam para lançar seus genéricos e/ou similares do Ozempic. A competição promete ser acirrada, com as empresas buscando diferenciar seus produtos e conquistar uma fatia do mercado.

Segundo reportagem publicada na Folha de S.Paulo[4], a empresa farmacêutica Hypera Pharma já se prepara para incluir a molécula no portfólio com a expiração da patente do Ozempic e a empresa EMS[5], farmacêutica nacional, quer ser a primeira no Brasil a comercializar semaglutida e liraglutida, análogos do hormônio GLP-1. Segundo a publicação, considerando o desconto médio para genéricos de 68,31%, o preço do Ozempic poderia cair para cerca de R$192 a partir de R$600, e para cerca de R$320 a partir de R$1.000.

Neste cenário competitivo, a gestão da propriedade industrial e Inovação tornam-se ainda mais críticas. Para as empresas farmacêuticas, proteger novas invenções e prolongar o ciclo de vida dos produtos existentes é essencial. Estratégias como o desenvolvimento de patentes para novo uso médico[6], aprimoramento de formulações e a proteção de processos de produção são algumas das formas de maximizar o retorno sobre o investimento em pesquisa e desenvolvimento. Diante da chegada dos genéricos, as empresas detentoras das patentes originais e dos medicamentos de referência buscam estratégias para manter sua competitividade. Algumas das principais táticas incluem:

Inovação incremental: Solicitação de patentes para melhorias incrementais, como novas formulações, composições farmacêuticas e o desenvolvimento de novas apresentações, como comprimidos de liberação controlada ou novos aperfeiçoamentos em dispositivos de injeção.

Inovação aberta: Colaborações entre grandes farmacêuticas, startups e centros de pesquisa para acelerar o desenvolvimento de novas tecnologias e otimizar processos produtivos.

Inovação em novos mercados: Ampliação do alcance por meio de estratégias de marketing para introdução em mercados emergentes com adaptações de preço e acessibilidade, parcerias com sistemas de saúde, redução de preços para maior acessibilidade e campanhas educativas localizadas destacando os benefícios do medicamento.

Fortalecimento da marca: A proteção por meio de marcas também desempenha um papel importante. A construção de uma marca forte e a criação de programas de fidelização são estratégias para manter a preferência dos consumidores, mesmo com a entrada de genéricos. A manutenção de marcas como a do Ozempic e Wegovy é uma ferramenta poderosa para fidelizar consumidores, mesmo após a entrada de genéricos.

Além de proteger suas inovações, as empresas farmacêuticas precisam acelerar seus esforços em P&D para descobrir tratamentos mais eficazes e diferenciados. Tecnologias como inteligência artificial e modelagem molecular avançada estão revolucionando a forma como novos medicamentos são desenvolvidos, reduzindo custos e tempos de desenvolvimento. No caso do Ozempic, empresas já estão explorando novos usos do princípio ativo semaglutida e buscando aplicações que vão além do diabetes, como no tratamento de obesidade, doenças cardíacas e até mesmo condições neurodegenerativas.

A corrida pela inovação no mercado farmacêutico não é apenas uma questão de patentes, mas uma demonstração de como a propriedade industrial e a inovação impulsionam o setor. O caso do Ozempic destaca a importância de estratégias inteligentes para navegar em um cenário dinâmico e competitivo.

Patente e inovação não são sinônimos, mas inovar sem considerar estrategicamente a gestão da propriedade industrial é, no mínimo, imprudente. Inovar sem proteger é deixar o mercado colher o que você plantou.

A disputa pelos genéricos do Ozempic é um exemplo claro de como a propriedade intelectual e a inovação caminham juntas. Enquanto o mercado aguarda a entrada dos genéricos e similares, o setor farmacêutico demonstra que a busca por avanços tecnológicos e estratégicos nunca param.

Compartilhe suas ideias e experiências sobre este tema nos comentários! Como você enxerga o futuro da inovação e da gestão da propriedade industrial na indústria farmacêutica. Se você tem interesse em desenvolver pesquisas em Propriedade Industrial e Inovação, entre em contato com nosso Grupo de Pesquisa em Gestão da Propriedade Industrial e Inovação. Oferecemos orientação para Pós-Doutorado (processo contínuo) e para Mestrado e Doutorado, com vagas previstas no Edital 2025 para ingresso em 2026. Ricardo.rodrigues@inpi.gov.br www.gestaodapi.com

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[1] INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL (INPI). Carta Patente nº PI 0607762-5. Análogos de GLP-1, composição farmacêutica contendo os mesmos e uso de um composto. Titular: Novo Nordisk A/S. Data de depósito: 20 mar. 2006. Data de publicação: 23 mar. 2010.

[2] INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL (INPI). Carta Patente nº PI 0613926-4. Dispositivo de seringa para ejetar uma dose de medicamento. Titular: Novo Nordisk A/S. Data do depósito: 17 jul. 2006. Data de publicação: 15 fev. 2011.

[3] INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL (INPI). Carta Patente nº PI 0606607-0. Dispositivo de injeção portátil. Titular: Novo Nordisk A/S. Data do depósito: 20 jan. 2006. Data da publicação nacional: 16 mar. 2010.

[4] FOLHA DE S.PAULO. Patente do Ozempic expira em 2026 e farmacêuticas testam genéricos e biossimilares. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2025/01/patente-do-ozempic-expira-em-2026-e-farmaceuticas-testam-genericos-e-biossimilares.shtml. Acesso em: 8 jan. 2025.

[5] A EMS foi a primeira a produzir e a comercializar genéricos para o consumidor brasileiro, em 2000, e a comprovar a confiabilidade e segurança desses medicamentos. Os genéricos mudaram o perfil do mercado farmacêutico nacional. Promoveram a maior concorrência entre os produtos e elevaram a qualidade dos processos de fabricação. Para a população, ampliaram a oportunidade de escolha e a oferta de preços mais competitivos. A EMS, que ocupa o primeiro lugar no ranking geral de farmacêuticas nacionais, é hoje também a líder em genéricos no País (IQVIA 2022). E detentora do maior portfólio do segmento, com cerca de 374 apresentações de produtos e mais de 200 moléculas. Em 2021, a EMS foi a primeira empresa a disponibilizar genérico da rivaroxabana, à população do país e o primeiro genérico disponível a partir da anulação do Artigo 40 da Lei de Patentes pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

[6] INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL (INPI). Resolução nº 208/2017. Disponível em: https://www.gov.br/inpi/pt-br/backup/centrais-de-conteudo/legislacao/Resoluo2082017.pdf. Acesso em: 8 jan. 2025. p. 31.

Importante: O presente texto apresenta as opiniões pessoais do autor, as quais não devem ser interpretadas como o posicionamento oficial de qualquer instituição à qual ele esteja vinculado.

Algumas imagens das Cartas Patentes: PI 0607762-5, PI 0613926-4 e PI 0606607-0. Saiba como obter o pdf desses documentos aqui!